Crédito das fotos: Lívio Pereira

Motetos de Oliveira são reconhecidos como patrimônio de MG

Uma das mais marcantes tradições da música sacra mineira agora é oficialmente reconhecida como patrimônio cultural de Minas Gerais. Foi sancionada pelo governador e publicada no Diário Oficial a Lei 25.207, de 9 de abril de 2025, que declara os Motetos da Semana Santa de Oliveira como de relevante interesse cultural para o Estado. A iniciativa é do deputado estadual Lucas Lasmar (Rede).

A prática secular, preservada com devoção por gerações, se mantém viva em Oliveira mesmo após desaparecer em Portugal, seu país de origem. Durante o Setenário das Dores, que antecede a Semana Santa, o Coral Polifônico Prof. Múcio Lo-Buono e o grupo Vocalis Barroco entoam os Motetos — peças em latim com origens medievais, incorporadas à religiosidade mineira no século XVIII.

De 5 a 11 de abril, a Igreja Matriz de Nossa Senhora de Oliveira foi novamente palco dessas celebrações. Sob a regência de Núbia Oliveira dos Mártires e Lívio Pereira, os corais interpretaram partituras do século XIX com precisão e emoção. O repertório inclui composições de nomes como João da Mata, músico negro que viveu em Oliveira no século XIX. As peças, polifônicas e cantadas a quatro vozes, mantêm viva a tradição barroca da música sacra.

Cerca de 30 voluntários de diferentes profissões — de pedreiro a professor, de diarista a oficial de justiça —, com idade média entre 40 e 50 anos, ensaiam semanalmente para garantir que essa herança cultural seja preservada.

Além do Setenário, outras celebrações completam o ciclo religioso-cultural da cidade. São cerca de 20 dias de cerimônias, com destaque para a Procissão do Encontro (terça-feira), a Procissão de Dores (quarta-feira, com motetos cantados nos Passinhos) e o Domingo de Ramos, que em Oliveira revive uma tradição interrompida por mais de 50 anos: o ritual da porta fechada.

Resgatado em 2019 após ampla pesquisa histórica, o ritual representa a abertura das portas do céu. “Dois corais se posicionam do lado de fora da catedral com as portas fechadas: um canta, o outro responde. Quando o bispo bate com a cruz e as portas se abrem, é como se o céu encontrasse a terra”, explica o regente Lívio Pereira.

Para o deputado Lucas Lasmar, a nova lei garante a preservação de uma manifestação única da cultura mineira:“Apesar da origem europeia, os motetos de Oliveira têm identidade própria e despertam o interesse de músicos e pesquisadores. A lei é uma forma de garantir que esse patrimônio siga vivo para as próximas gerações.”